Entrevista

A história do Dennis DJ é mais interessante do que você imagina

30.05.2017 | Por: Renato Martins

Se tem um personagem que participou da juventude de quem curtiu funk com 15 anos, esse cara é o Dennis DJ. Com 36 anos da idade, sendo 20 deles dedicados exclusivamente ao funk, o produtor já trabalhou com toda a trupe de artistas carioca, tem uma festa chamada “Baile do Dennis” (que mais parece um festival), é um dos poucos artistas que tem uma licença poética para produzir um “Funk EDM” e ainda teve tempo para criar o hit “Malandramente” em 2016. Acha pouco? Confira mais da história do produtor aqui no Portal KondZilla.

Dennison de Lima Gomes, 36, pode não ser tão conhecido quanto deveria. Natural de Duque de Caxias, Rio de Janeiro, o cara já foi da Equipe Furacão 2000 e produziu os maiores hit’s do funk carioca: “Cerol na Mão”, “Um tapinha não dói”, “Dança da Motinha”, “Jonathan da nova Geração”, “Vai Lacraia”, “Já é Sensação” e muitas outras que você já ouviu, mas não sabia que era dele.

Ao contrário do que se imagina, ele não vive só das glórias do passado. O produtor, depois de passar mais de 10 anos nos bastidores do funk, resolveu tomar a frente e apresentar o seu trabalho como artista. Com o programa de rádio “Baile do Galerão”, que posteriormente virou “Baile do Dennis”, o produtor ajudou a escrever a história do funk carioca. E agora, como Dennis DJ se joga em turnês pelo Brasil.

Dennis é quase um pop-star. Sempre com o cabelo e a barba arrumada, ele é mais que DJ e produtor musical, ele agora se tornou um empreendedor do funk. Com um radar para talentos, o cara vem abraçando artistas para colaborarem em suas produções. Nesse time já passaram: Claudia Leite, MC Livinho, Latino, MC Marcinho, Mc Pikachu, MC TH, Zaack e Jerry, MC Davi, Mc Kekel e os já conhecidos MC Nandinho e Nego Bam, presentes no sucesso “Malandramente”.

Malandramente foi um hit absoluto do funk carioca. No YouTube, já ultrapassa a marca de 84 milhões de visualizações e foi uma das músicas mais tocadas em 2016.Neste ano, o produtor juntou a dupla Nandinho e Nego Bam novamente e arriscaram outra música, a “Pitu”. Além do lançamento, prepararam também um videoclipe, lançado em fevereiro. E foi durante as gravações de “Pitu” que o trio encontrou o Portal KondZilla para um bate-papo. Confira como foi a conversa:

Como surgiu a ideia da música Malandramente? Vocês já estavam trabalhando juntos?

Dennis: Essa música [Malandramente], na verdade, já existia na voz do Nandinho na versão putaria. O Nandinho me apresentou essa música e falei “cara, vamos limpar essa música para eu poder lançar”. Ele já cantava, mas não tinha o lançamento ‘oficializado’ e a música não aconteceu. Falei para ele mexer, e enquanto trabalhávamos na música, o Nego Bam estava indo gravar comigo uma outra música, eles ainda não eram uma dupla.

Lá no estúdio, o Nego Bam estava sentadinho, quieto (ele só fica quieto mesmo). Eu sempre fui fã da voz do Nego Bam, já fazia uns 3-4 anos que eu queria gravar com ele. E ai eu falei para Nandinho que se colocasse a voz do Nego Bam ia dar um reforço [na música]. Aí ele entrou no ‘Aaaaaí safada’ e começamos a rir. Quando todo mundo começou a rir, falei: ‘é essa p*rra aí’. E aí nasceu a parceria, porque até então não era. E a gente foi fazer o clipe em São Paulo da “Malandramente”.

E esse moda de transformar a putaria em versão light? Como funciona?

Dennis: É mais para comercializar a música. O Rio é o berço disso tudo. A putaria já tem no Rio desde que eu me entendo por gente. Eu, particularmente, tento fazer um trabalho mais “clean”, mais limpo para galera, para ser aceito por todos os públicos.

Nandinho: A versão light é pra pegar todo mundo também, porque senão, lá no Rio… ou melhor, não só no Rio, como em todo lugar que tem funk no Brasil. Se você se limitar e ficar só na putaria, você não se dá bem.

Dennis: Antigamente era pior. Os MCs já faziam a putaria sem saber como ia ser a light. Hoje em dia já criam a música, putaria, ou se bobear até a ligth primeiro para depois criar a putaria.

Como funciona o processo de criação das letras de vocês?

Nandinho: Na hora que ta criando a música ali, você tá lá pensando, “p*rra, putaria”. Bota ali, tira aqui, até quando tu vai pra outro mundo. Depois vou lá e falo ‘Coé Dennis, ta legal?’. Ele pede pra cantar. Porque ele é mente pura (risos).

Dennis: Eu sou a pessoa mente pura, ele é a mente da maldade, da putaria (risos). É que pra eu tocar [fica difícil]. Eu tenho um público muito diverso, que vai de 0 a 80 anos. Eu atinjo todas as idades, então eu não fico focado só em um público. Eu falo com um público geral. E ai, se você deixar a música muito pesadona, no meu caso, pra divulgar, ai não dá. Para eu tocar, para eu fazer parte do meu projeto, não dá. Hoje eu tenho que pensar na light. Porque assim, a galera mais velha até dá aquela zoada, mas, não vai botar dentro de casa para ouvir. O adolescente vai. Então eu tento manter essa galera toda em harmonia.

A música Malandramente foi um estouro internacional, o mundo todo acabou ouvindo a música de vocês. Vocês já esperavam por esse sucesso todo?

Dennis: Não, não esperava. Ninguém esperava nada aqui. Uma coisa que eu boto na cabeça deles é o pé no chão. Eu falo que o ‘Malandramente’ é uma música que só aparece a cada dez anos, uma música pra fazer o crossover que ela fez, é difícil. Ela atacou até quem não gosta do funk, mas gosta do Malandramente. Isso não é fácil. Eu falo para eles “Não pensem que a próxima música vai ser igual a essa”. O tempo todo eu falo para não frustrar os caras, porque eu já estou acostumado com essa rotina. Trabalho nisso há 20 anos, eu estourei inúmeros artistas e músicas, e já sou calejado nessa história.

Acho que o grande lance é que agora eles tem uma marca, essa música vai ficar na vida deles. Agora é trabalhar daqui pra frente para fazer a manutenção musical. Hoje, existem diversos funks estourados, mas são estourados só no nosso meio [do funk]. Não são igual o Malandramente que atingiu todo mundo.

São poucos os funks que fizeram esse crossover de público, podemos até contar nos dedos: “Bumbum Granada”, “Baile de Favela”, “Malandramente”, “Se ela dança eu danço” do Mc Leozinho. São músicas que chegaram em um público além do funk.

Agora, já aviso para eles não esperarem um sucesso igual o “Malandramente”. Se acontecer, amém, dois raios no mesmo lugar, mas eles já são muito calejados. Estão acostumados com esse mundo.

Vocês três são cariocas que nasceram dentro do funk e conseguiram ver todo a construção do movimento. Hoje, já tem funk no Brasil inteiro, inclusive em São Paulo. Como vocês vêem esse movimento de funk paulista?

Dennis: Eu vejo esse movimento como uma renovação. Acho que foi muito importante para o mercado do funk ter essa outra visão, de uma galera que tem uma outra cabeça, que não tem a informação que a gente tem no Rio. Eu acompanho o funk desde que o funk não era nem nacional, era só o Miami Bass.

O “carioca”, e eu digo no sentido “o carioca” porque eu, particularmente, o Dennis DJ, sou muito mente aberta, tem uma parada de posse com o funk, de falar que o “funk é meu”. Há três anos, eu já via SP sinalizando que estava chegando e eu comecei a levar MCs de São Paulo pra tocar no Rio de Janeiro.

E nessa época, todo mundo ficou rindo e me recriminando: “p*rra, cê tá dando moral pra esses paulistas? Esses caras vão roubar nosso carvão aqui!”. Só que como você vai falar que o pagode é do Rio ou de São Paulo? O pagode é do Brasil. Assim como o funk. O funk não é do Rio, o funk iniciou no Rio e explodiu. Acho que até demorou pro funk chegar em SP.

Eu fui um dos primeiros DJs a tocar funk em SP. Tô falando da época do “Bonde do Tigrão”, “Cerol na Mão”, “Um tapinha não dói”, na virada dos anos 2000. Eu fui o primeiro a fazer um programa de TV em São Paulo com essa galera toda. As casas aqui [de SP] não tocavam funk, era só rap. Eu tocava no Nação Tan Tan quando nego nem imaginava o Nação tocar funk. E não tocava. E eu via potencial, faltava em São Paulo a galera fazer funk, que ai iria popularizar a parada.

Porque se não tem a galera de SP fazendo o que tá fazendo, o funk não estaria fazendo o sucesso que tá fazendo hoje, porque eles renovaram e fortaleceram o movimento do funk. E o cara que não tem essa mente, está ultrapassado. Não é atoa que o funk do Rio tá passando pela pior fase, porque eles não aceitam que hoje tem MCs de São Paulo que são bons compositores, bons produtores.

Dennis, você veio de um circuito musical que envolvia a TV e hoje vivemos a era da internet. Como você vê esse novo formato de trabalho com a internet?

Dennis: Isso veio pra salvar o mundo, hoje o YouTube é a nova TV Globo. Dependendo do conteúdo que você manda, você tem o resultado. A internet foi uma invenção maravilhosa, a internet veio pra estragar algumas coisas, mas veio pra ajudar muito também, porque hoje [a internet] esta alimentando muita gente. Antes, você dependia das gravadoras, agora é o contrário. Hoje as rádios estão vendo quais são as 50 primeiras do Spotify, os 10 primeiros clipes do YouTube, e aí traz pra TV pra tocar.

Hoje, a luta é essa, a de agradar o público. Não tem como mentir muito. Há 15 anos era dose ligar a TV e ver os artistas se apresentando.

Nandinho: Há 15 anos atrás, a TV inventava o sucesso. Ela fazia de alguma forma o sucesso, hoje em dia as pessoas é quem ditam os sucesso.

Dennis: Sim, hoje você fabrica muito dos sucesso. Eu lembro porque eu estava muito estourado com a música “Cerol na mão”, quando eu fiz o CD da “Furacão 2000” e eu nao ia pra TV. O pessoal empurrava uns grupos que ninguém sabia cantar as músicas. Sucesso pra mim é você chegar no meio da multidão e cantar um pedaço da sua música e o público continuar a cantar. Pra mim, isso que é sucesso. Agora você pega uma música, joga lá e ninguém canta, que sucesso é esse que ninguém canta? Então tinha muito disso.

A internet foi a melhor coisa, porque agora acabou o monopólio. Não é mais quem é que a TV quer mostrar. Taí os Youtubers, a KondZilla, os MCs…todo mundo, inclusive eu. Como é que eu chego lá em Manaus, no shopping Manauara e tiro uma porrada de foto? Eu não apareço na Globo toda hora, eu não apareço na TV. Alguém conhece a minha cara, mas conhece da onde? Da internet! Da rede social.

Ao longo de 20 anos, você acumulou diversos sucesso musicais e agora acertou em mais um. Qual é o segredo para alcançar o sucesso?

Dennis: Eu posso falar pra você da minha história, eu tenho 20 anos no funk. Nos bastidores do funk, sempre produzindo os artistas, como compositor, produtor musical, no backstage da coisa. Eu sou conhecido no meu estado, porque eu sempre tive programa de rádio nesses 20 anos. Eu já rodei muito, eu já fiz muito evento, muito show, aquela coisa toda, por conta da Furacão 2000 tive essa visibilidade que a gente tinha com um programa de TV local, no Rio, na Band. Eu sou muito conhecido lá, e de uns 10 anos pra cá, eu decidi a tomar a frente como artista mesmo. Desses 10 anos pra cá. Então, se você analisar: depois de 10 anos trabalhando, fazendo, compondo, produzindo música no backstage, depois de mais 7 anos tentando como um artista, só de 3 anos pra cá, dentre esses 20 anos, que eu consegui chegar no meu objetivo. Então assim, tem como você desistir rápido e fácil? Não tem pô! Entendeu?

Hoje eu tenho uma carreira. Por isso que eu falo, pra você não desistir, porque Deus sabe a hora certa. Se ele não te deu ainda a oportunidade, porque ainda não é o momento. E eu acredito também que se eu tivesse o sucesso que eu tenho hoje, há 10 anos atrás, eu não teria maturidade que eu tenho hoje. Eu tenho certeza que eu não ia conduzir a minha carreira, a minha vida profissional como eu sei conduzir hoje. De tudo: administrar a grana, a fama, tudo isso. Acho que Deus sabe a hora de te dar o sucesso. Por isso que você não pode desistir. Você tem que tentar, tomar as porradas, porque é a porrada é que vai te deixar forte, e vai te ensinar também.

Nandinho: A porrada vai te ensinar. Te ensinar a conduzir aquilo tudo. Deus prepara o melhor pra você. Ai você acha que ta num momento bom, mas tudo vai vir na hora certa.

Voltando naquele assunto, se o povo do RJ, os funcionários do funk entendesse que o Brasil é muito grande, que não é pra gente ficar se limitando, tipo, não ajudando o movimento a crescer, a ficar criticando, brigando, sabe, essas coisas que falamos, se o povo abrir a cabeça, se cada um fizer o seu, eles vão ver que tem lugar pra todo mundo. Eu ganhava 2 mil numa noite e achava que estava rico, e eu fazia 3-4 bailes, ia na favela, ai deu uma caída e agora voltou e tô vivendo num sonho. E… olha isso aqui, isso aqui também é funk! Mas é mais gostoso! Tem um sabor melhor! Vitória tem sabor de mel!

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