Entrevista

Marcado pela ostentação, MC Taz está de volta à cena

31.07.2017 | Por: Guilherme Lucio da Rocha

Lá em meados de 2010, o funk ostentação deu uma cara para o funk paulistano, até então uma espécie de cópia do que rolava no Rio de Janeiro. A nova vertente foi aclamada pelo público e até os dias de hoje é lembrada por fãs com certo saudosismo. Entre os que se destacaram está o MC Taz, personagem que escreveu seu nome no funk com as músicas “Deixa Rolar“, “O Filho do Dono” e “Vem Com a Gente“. E nós, do Portal KondZilla, fomos visitar o cantor na sua quebrada para trocar uma ideia sobre a sua relação com a região e sua carreira.

Obviamente, nosso rolê pelo Capão teve muitas referências do grupo Racionais MCs, ícone do rap nacional e que já destacou a comunidade da zona sul de São Paulo em diversas letras. Lucas Gomes, 23, se diz fã do quarteto paulistano, mas não conhece o Mano Brown, que é nascido no Capão Redondo.

“A galera têm essa ideia de que quem mora no Capão tromba a galera [do Racionais MCs] em toda esquina, mas não é bem assim. Eles têm uma influência na quebrada, até pela importância deles na música”, conta Lucas. “Eu sou fã deles, escuto desde moleque. Eles são tipo uma referência para mim”.

O bairro do Capão Redondo está localizado no Sul de São Paulo e tem uma população aproximada de 300 mil habitantes, ficando entre as cinco comunidades mais populosas da cidade. Seus primeiros ‘ocupantes’ foram imigrantes alemães, lá em meados de 1915, segundo informações da Prefeitura de São Paulo.

A admiração pelo rap e pelo Racionais não foram o suficiente para Lucas tentar a vida fazendo umas rimas conscientes. Lá em meados de 2010, quando Taz ainda estava no Ensino Médio, o funk ostentação começava a invadir São Paulo, e os grandes nomes dessa vertente vinham da Zona Leste.

“Lukinhas”, como era conhecido na época, tinha como referência os trabalhos do MC Lon e do MC Dede. O garoto começou a lapidar o dom de rimar ainda no colégio, e com o funk crescendo na capital, ele via o rap perder espaço cada vez mais espaço para o ritmo carioca. Com umas letras no caderno e umas rimas no YouTube, o garoto recebeu sua primeira chance graças a um dos seus ídolos.

“Lembro que a primeira vez que subi no palco foi graças ao MC Lon, num evento que rolou aqui no Capão, lá em 2012. Eu cantei uma música dele, e foi uma sensação incrível subir no palco com um artista que você admira”.

O Capão Redondo também sofre com a falta de assistência por parte do Estado. Essa ausência faz com que a figura do MC se torne uma das poucas referências de sucesso a ser seguido, uma espécie de espelho do bem para molecadinha. E, por muitas vezes, esse apoio do público mais novo é o combustível para o cantor ir além, já que ele agora tem que ser um modelo a ser seguido.

Foi com o ‘empurrãozinho’ dessa galera, principalmente dos amigos mais próximo, que Taz decidiu mergulhar de cabeça nessa parada de ser MC. E pra se ter uma noção de como os parças foram importante na caminhada do Taz, eles ajudaram até dando dica nas letras e produções do cantor.

Não tardou pro sucesso chegar. Seu primeiro grande hit foi “Deixa Rolar“, lançado em 2013 e ultrapassou a marca de 25 milhões de visualizações, colocando o cantor no mapa do funk.

“Essa música [Deixa Rolar] mudou a minha vida, fez com que eu conhecesse lugares que eu nunca imaginei. Lembro que um dos meus sonhos – e de muitos funkeiros também – era cantar na [casa noturna] ‘Nitro Night’, e eu realizei isso graças a essa música”, conta.

Caso você não saiba, a Nitro Night é uma espécie de ‘templo sagrado’ do funk, no qual 10 entre 10 funkeiros sonham em cantar. A casa é uma das poucas especializadas em música de periferia na Zona Sul paulistana.

Voltando a falar do Taz, o cantor aproveitou o sucesso de “Deixar Rolar” ao máximo. No entanto, ele explica que há alguns anos o funk era totalmente diferente do que é o som de hoje, com peculiaridades que o tempo levou.

“Naquele tempo, há uns três, quatro anos, o funk não era tão profissional como hoje. Além disso, lançávamos menos músicas, lembro que trabalhei um bom tempo com a ‘Deixa Rolar’. Hoje tá uma loucura, tem MC lançando música todo dia”, diz Taz, ao comparar a época do funk ostentação com o momento atual do funk.

E depois do boom do seu primeiro hit no movimento, o funk ostentação começava a perder força para putaria, que crescia graças às produções do DJ Perera e as músicas dos MCs Livinho, Pedrinho, Menor da VG, e aquela turma toda que surgiu na Zona Norte de SP e mudou o foco do funk.

Junto a essa queda da ostentação, Taz enfrentou outro problema que é recorrente no mundo artístico: a orientação errada por conta de pessoas que não visam o bem do artista.

“Infelizmente, algumas pessoas têm uma mentalidade pequena, gananciosa, e isso acaba atrapalhando sua vida profissional. E junto a isso, eu sou um cara do funk ostentação, essa é minha marca. Então com a queda da ostentação, fiquei um tempo de lado e tal”, lamenta o cantor.

Entre 2014 e 2016, a carreira do MC deu uma estagnada. A mistura da queda da ostentação com a falta de uma estrutura por trás que o ajudasse a pensar só em cantar foram fundamentais para essa “pausa”.

E mesmo com as dificuldades, Lucas nunca desistiu do sonho, sempre de olho no mercado e nas novidades do funk. Contando com a ajuda dos amigos que sempre estiveram lado a lado, ele vem voltando a tocar nas quebradas de São Paulo. Uma pessoa que foi fundamental na carreira do cantor é o DJ Saha [o moleque de camiseta azul na foto junto com Taz], que está com o MC desde o começo de carreira, produzindo e tocando, e faz questão de deixar claro que “não troca o Taz por ninguém”.

Mesmo vivendo um momento de transição, o cantor não ficou parado. Uma das características do Taz é diversificar o trampo, sempre tentando lançar hits diferentes, como a música “Festa Lá em Casa“. No último mês, ele lançou sua mais nova música de trabalho, “De Quebrada“, que já tem mais de um milhão de visualizações no YouTube.

“Durante o tempinho que tive dificuldades, eu pensei em parar. Mas graças a minha família e meus amigos, mantive o foco. Graças a Deus, me cerquei novamente de pessoas boas e consegui voltar”, conta o MC. “Aprendi muita coisa que serviu de experiência. Hoje o funk está diferente, está mais profissional e pede que você se atualize a cada dia, lance trabalhos novos constantemente. Estou me adaptando a este novo momento”.

O MC Taz é um dos MCs marcados pela onda da ostentação e será sempre lembrado pelo público que viveu aquela época. E mesmo com todas as mudanças que o ritmo passou desde sua chegada em São Paulo, o cantor segue com seu espaço no funk.

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