Histórias que inspiram

Ajuliacosta representa a força de vontade das periferias

11.09.2018 | Por:

*Todas as fotos por Jeferson Delgado // Portal KondZilla

Muitos jovens das periferias sonham em viver financeiramente apenas com seu próprio suor, principalmente empreendendo. Para alguns, isso já é realidade. No melhor estilo “faça você mesmo”, Julia Roberta criou sua própria marca de roupa e, em pouco tempo, o negócio estourou. Na verdade, deu tão certo que ela ainda mandou o papo pro seu parceiro, Matheus Santos, seguir na mesma pegada. O Portal KondZilla vai te contar melhor essa história.

 

A vontade de ter ‘coisas’ que não eram da sua realidade, foi o pontapé para Julia Roberta da Costa, 20 anos, entrar no mundo da moda e costura. Os comerciais de roupas na TV e imagens da internet ofereciam roupas que a família de Júlia não podia comprar para ela. Tendo dentro de casa uma mãe e uma avó que já costuravam, a jovem resolveu aprender e confeccionar suas próprias peças com apenas 13 anos de idade. Com o tempo, as minas da escola começaram a se interessar pelas confecções de Julia e o que era apenas brincadeira, virou empreendedorismo e negócio. Aos 18 anos, com uma grana que estava guardada há meses de economias, a marca Ajuliacosta foi lançada nas pistas.

Julia já estava com a ideia andando desde 2015 e com o constante crescimento, ela sentiu que precisava de uma mãozinha em alguns setores do corre, como: as entregas e compras de materiais, por exemplo (lembrando que ela já se dedicava a confecção das peças). Eis que surge alguém para esse auxílio num corre tão grande feito por uma mina. Julia conheceu Matheus Santos, 18 anos, e agora estão caminhando juntos administrando o negócio há três anos. Com essa união surgiu até uma espécie de versão masculina da Ajuliacosta – a Massati. Confere o papo que troquei com o casal:

KondZilla.com: Bora começar contando um pouco sobre como surgiu a Ajuliacosta. Como tudo começou?
Julia: Sempre foi por querer a roupa que as minas tinham, que eu via na internet e não tinha grana pra comprar. Minha mãe e minha vó sempre costuraram e com isso comecei a tentar fazer as roupas com 13, 14 anos. Comecei customizando peças, ia no brechó, comprava e customizava, ai as mina da escola começaram a pedir pra eu fazer pra elas também, então customizava e vendia as peças na escola para elas. Com 16 anos consegui meu primeiro emprego e fui tentando juntar uma grana e depois, com 18 anos, investi toda essa grana que tava guardada em tecidos. Em 2015 surge a Ajuliacosta, com rede sociais e tudo que tinha direito.

KDZ: Quanto você conseguiu guardar de grana pra esse primeiro investimento?
Julia: R$700. Dos 16 aos 18 anos eu poupei essa grana, mas não investi tudo desses dois anos de uma vez porque se não ficaria sem grana nenhuma.

KDZ: Como o Matheus, seu namorado, entrou nessa história? A Massati surgiu depois de tudo isso?
Julia: A ideia [da Massati] é ser a extensão. A Ajuliacosta representa as mulheres negras e a Massati vem para representar os homens negros sem visibilidade, o povo negro da periferia.

Conheci o Mat em 2016. Até esse momento eu trampava sozinha. Em 2017 ele começou a me ajudar com a marca, comprando tecido e dando uma força nas entregas. Foi aí que começamos a pensar na parte masculina, que representasse o Mat e desse independência pra ele. Em menos de um ano o resultado tem sido muito foda.

Matheus: Em 2017 tava osso esse lance de moda, SPFW não tinha preto no bagulho e foi quando a gente quis fazer o corre, fazer o baguio virar pra tomar de assalto mesmo. Começamos a produzir porque [a moda negra] não tem tanta visibilidade, porém tá influenciando muita gente, já é citado em música, já levado como lifestyle.

KDZ: Como foi ter uma pessoa para fortalecer um corre que você criou do zero?
Julia: Foi difícil porque nunca dividi meu negócio com ninguém, aí foi complicado entender que o Mat tava comigo e entender que outras pessoas iam fazer as coisas que eu sempre fiz. Fui muito egoísta nesse quesito, mas não em questão de não confiar, foi muito difícil de entender que tinham outras pessoas me ajudando. Eu continuei querendo fazer tudo, sendo que tinha uma pessoa maravilhosa pra me ajudar. Com o tempo a gente foi se acostumando, cada um foi ficando com uma tarefa, passei a ajudar a Massati desde quando ela existiu, já o Mat me ajudou nas coisas que não conseguia porque tava ocupada com a Massati.

KDZ: Então, Mat, podemos pode dizer que a Julia colocou você no mundo da moda?
Matheus: Ah sim, acho que no mundo… eu acho que ela me envolveu no mundo dela né, foi como um bagulho de somar sabe, o que eu sabia eu somei, o que ela sabia ela somou.

KDZ: Como você aprendeu a costurar?
Julia: No começo eu pegava uma roupa pronta, descosturava e costurava novamente. Tentei entrar na universidade pra aprender “corte e costura”, fiz um semestre, não gostei e saí pensando: “como que uma professora, que nunca fez uma roupa, vai me ensinar a fazer as minha?”

KDZ: Como tem sido desde o começo da Ajuliacosta e Massati até o momento? Como foi a evolução de tudo isso?
Julia: Eu acho que foi um crescimento enorme, principalmente quando comecei a conhecer o Centro de São Paulo e outras perspectivas, hoje eu vivo só disso. Tranquilamente.

A Massati tem evoluído mais que Ajuliacosta em relação ao começo, em menos de um ano eu não tava fazendo tanto barulho na cena. O motivo são as parcerias: [os rappers] Kaue, Genuino, Magali estão usando Massati. Eles vêm através da música pra comprar a roupa. Ajuliacosta e Massati é a música, moda e empreendedorismo independente.

KDZ: Pô, o corre já tava a milhão, veio o Mat pra fortalecer, como foi para contratar uma terceira pessoa?
Julia: Foi um processo de necessidade mesmo, a gente começou com a Marília que foi nossa primeira vendedora, porque eu não tinha tanto tempo para vender, era focada nas confecções, então eu vi a necessidade de uma pessoa pra trampar com a gente, pra responder e vender nossas peças e a primeira pessoa que a gente encontrou foi a Marília. Acabou dela não ficando tanto tempo então conhecemos a Manu que já tinha feito um teste pra ser costureira na verdade, mas gostamos muito dela, perguntamos se ela não queria trabalhar vendendo e hoje ela tá aí com a gente trampando.

KDZ: Se tratando de referência, vocês tem alguma marca que buscam se espelhar? Tanto para Ajuliacosta e Massati.
Julia: Então, a gente brisa muito em modelagem e cor, a gente não tem muita referência de marca assim, a gente não vê nenhuma marca como referencia, mais eu sempre busco conhecer modelagem nova, por que conhecer modelagens novas são a mesma coisa que desenhos pra mim e cor faz toda diferença na roupa, então a gente brisa muito nesses dois aspectos.

Empreender sendo da favela não é fácil, principalmente pelo quesito da grana contada que sempre nos rodeia, manter as contas em dia e ajudar dentro de casa. Na quebrada, há diversos negócios, alguns que dão muito certo e outros que já nem tanto e sabemos que vindo da ponte pra cá não temos tantas chances assim para errar. Conhecer histórias que estão dando certo, seja por acreditar muito na ideia ou até mesmo por investir na parada certa, pode ter certeza que é um fator encorajador para outras pessoas.

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