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DJ Baphafinha é a enciclopédia do funk da Baixada Santista

22.06.2017 | Por: Guilherme L. da Rocha

São poucas as pessoas que conhecem tanto do movimento funk que aconteceu na Baixada Santista durante a década dos anos 2000 quanto Leonardo Tadeu Pimenta, 36, mais conhecido como DJ Baphafinha. Com mais de 20 anos de estrada, e boa parte desse tempo dedicado ao funk, o DJ recebeu o Portal KondZilla no seu estúdio em Santos, para contar um pouco mais sobre a sua história, que se mistura com a história do funk do litoral de São Paulo.

E como descrever o trabalho de um cara que tem de experiência na música o que eu tenho de tempo de vida?

A história do DJ Baphafinha, uma das principais figuras do funk da Baixada, surgiu há pouco mais de 20 anos, quando ele ainda era garoto. Carismático e querido no litoral, ele trabalha com música desde os anos 90, produzindo os principais MCs do início do funk paulista, como Duda do Marapé, Danilo e Fabinho, Renatinho e Alemão, Careca, Primo, entre outros. Inclusive, foi ele quem produziu a música “Fubanga Macumbeira” que, segundo o documentário “Funk Ostentação“, é considerada a primeira produção original de funk da Baixada. E é com todo esse histórico que Baphafinha segue com fôlego e se apresentando em boa parte das casas noturnas do litoral de São Paulo.

O DJ começou na música graças a influência do seu irmão mais velho, o DJ Baphafa, e conheceu o funk carioca graças a coletânea “Funk Brasil”, do DJ Marlboro, lançada em 1989. “Eu estava começando a tocar na noite, [um som] mais funk soul mesmo, quando meu irmão me apresentou o vinil do Funk Brasil, de um tal de Lourival Fagundes trouxe do Rio de Janeiro para Baixada. Eu fui testar para ver a aceitação do público e acabou vingando, a galera gostou”, comenta Baphafinha.

À época, Baphafinha conta que as produções de funk – todas exclusivas do Rio de Janeiro -, eram feitas a mão, literalmente. As fitas de rolo (essa da foto) eram o meio de produção lá no início dos anos 90. Tempo depois, chegaram as fitas MD – a mãe do pendrive. E mesmo com toda a dificuldade, aliada a falta de tecnologia acessível na produção, ele não desistiu.

Outra situação que acontecia nessa época, era a escassez de casas noturnas. Tanto para se apresentar, quanto casas que fossem abertas ao ritmo carioca que ainda era desconhecido no estado de São Paulo. Mesmo assim, o DJ acreditou na música carioca e se manteve fiel ao estilo que consagrou o seu nome no litoral.

“Em Santos, eu era um dos únicos DJs de funk e muitas casas sabiam disso. Já fecharam muitas portas na minha cara, mas eu confiava no meu trabalho e acreditava no funk. Nunca pensei em mudar, ficar tocando outras músicas”.

As primeiras composições propriamente paulistas surgiram no final da década de 90, sempre exaltando as comunidades de cada MCs, como na música “Porta Voz” da dupla Careca e Pixote.

“O litoral de São Paulo importou muita coisa boa do Rio de Janeiro. Coisas boas, como as composições engraçadas, a questão dos MCs serem duplas em sua maioria. Mas também importamos algumas coisas ruins, como a divisão de comunidades na hora do baile em ‘Lado A x Lado B’, o que gerava as brigas de corredor”, explica o DJ.

E os bailes da época se assemelhavam a jogos de futebol, com estádios, digo, pistas lotadas, sinalizadores, bexigas e muito incentivo ao MC da quebrada que subia ao palco. Tinha até umas camisetas personalizadas para cada bairro. Ou melhor, as camisetas ainda tem.

Com o passar do tempo, depois da virada dos anos 2000, a Baixada Santista foi criando uma identidade musical própria do ritmo carioca. Todavia, mantendo suas raízes no rap. Novos artistas surgiram e as letras começavam a ser cantadas referente a própria realidade, deixando as letras cariocas apenas como influência.

Nessa época, Baphafinha se destacou dentre os poucos produtores do litoral. Ele, inclusive, participou de vários sucessos desse momento, como “A Firma É Forte”, do MC Neguinho do Kaxeta, produzindo e divulgando nas pistas quando atacava de DJ. Sua autoria como produtor ficava apenas nos bastidores. O DJ faz um paralelo com os dias de hoje, explicando que não era necessário repetir o nome dele durante a música ou mandar salve.

“Na época, não tinha essa de mandar salve para o produtor no meio da música, fazer carimbo para o DJ três vezes. Para mim, a produção é uma arte, o produtor não precisa ficar se rotulando na própria produção”, comenta. “Hoje, o produtor tem um peso na música, precisa aparecer. Mas eu, como DJ, faço questão de tirar o nome do produtor das músicas que eu toco. E os caras nem acreditam que eu consiga fazer isso [risos]”, diz Baphafinha, que se destaca pelas versões sem vinheta.

Pode parecer saudosismo, mas o DJ santista aponta que os anos 2000 foram os melhores anos do funk de São Paulo, quando surgiram nomes como os MCs Careca, Primo, Neguinho do Kaxeta, Barriga, Renatinho e Alemão, Felipe Boladão… ok, a lista é grande.

E Baphafinha era visto como “mais” que apenas um produtor musical. Para muitos cantores, ele era um conselheiro, alguém que realmente entendia como a engrenagem funcionava. Tipo um pai mesmo.

“Eu tinha uma relação boa com todos eles, com vários tinha uma relação mais estreita. Um que era um filhão para mim era o Duda [do Marapé]. Sabia que quando tinha alguém chamando ‘Leonardo’ no portão, era ele. Só ele e minha mulher me chamam de Leonardo. Isso porque, muitas vezes, ele pulou o muro da minha casa onde ficava meu antigo estúdio. Eu ficava puto, falava que ia colocar uns cachorros para pegar ele (risos)”.

Com a série de assassinatos que vitimou quatro cantores (Careca, Felipe Boladão, Duda do Marapé e Primo), entre os anos de 2010 e 2012, todos no mês de Abril, o litoral de São Paulo deu uma freada na produção de músicas e artistas de funk.

Esses crimes mexeram com a vida de Baphafinha, não só pelo medo – que envolvia todas as pessoas com alguma relação com o funk -, mas também por conta da relação próxima que tinha com cada um deles.

“Na época, eu pensava em mil coisas, mas não tinha certeza de nada. E, até hoje, ninguém sabe o motivo [das mortes]”, conta. “Trabalhar com esses caras era foda. Eles, com certeza, fazem falta para o funk hoje em dia”.

E junto das mortes, houve o surgimento do funk ostentação, que foi abraçado pela capital São Paulo.

“São Paulo deu uma outra cara para o funk, a parada está mais estruturada. O que falo para molecada, quando tenho a chance de trocar uma ideia com eles, é passar uma visão de quem viveu a história, que o funk não é só o agora, tem toda uma história por trás. É passar esse conhecimento”.

Hoje, Baphafinha não está tão envolvido nas produções de funk, porém, está mais ativo como DJ. Inclusive, há dois anos, ele criou uma festa para relembrar os tempos do funk relíquia da Baixada. A festa “Som dos Bailes” é sucesso de público e também conta com convidados do Rio de Janeiro, DJs e MCs que fizeram sucesso nos anos 90 ou 2000.

E mesmo com todas as dificuldades da montanha russa do funk, Baphafinha se mantém na ativa e mantendo viva a história da Baixada. Para quem, como eu, viveu de perto a ‘época de ouro’ da Baixada, é difícil não lembrar com certo saudosismo. Não é a primeira vez que troco uma ideia com o Baphafinha, e ele sempre tem uma história nova pra contar sobre aquele tempo. Foi mais de uma hora e meia de papo, mas poderia ter sido umas cinco horas que ainda seria pouco para falar dos mais de 20 anos de experiência do DJ.

Portanto, se você quiser saber um pouco mais sobre a história da música eletrônica da Baixada Santista, Leonardo Tadeu Pimenta é uma boa referência. Acompanhe o trabalho do DJ Baphafinha pelas redes: Facebook // SoundCloud .

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