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DJ Puffe explica a trajetória do funk em SP

06.12.2017 | Por: Guilherme Lucio da Rocha

Figura importante no universo da música, o papel de DJ muitas vezes acaba recluso as cabines de som. Mas a tarefa de entreter o público durante a noite toda, divulgação das músicas, e também de movimentos, é responsabilidade do DJ. Renan Vinícius, 30, mais conhecido como DJ Puffe, está no rolê de São Paulo há tempo suficiente para ver as melhorias da profissão. Puffe sabe como é tocar funk nas casas de show paulistanas, desde a época que o ritmo ainda era olhado torto por muitos, até o momento atual. O Portal KondZilla foi até Diadema conhecer o estúdio do cara e bater um papo com esse personagem importante do funk de São Paulo.

“Em 2008, quando tornei essa coisa de ser DJ séria, quase não tinha DJ paulistano e os que tocavam por essas bandas eram DJs cariocas”, conta o DJ, ao abrir a conversa. Puffe nos recebeu em seu estúdio, que à época ainda estava em reforma. Mas isso nem de longe foi um problema. Com muita conversa e boas risadas, a tarde no estúdio da produtora Atrativa Inigualável fez lembrar os idos do funk paulista.

Vamos voltar lá pra 2010. Antes terra semi-virgem do ritmo nascido do Rio de Janeiro, a capital de São Paulo começava a observar o funk no início da década, mas um funk diferente, com letras falando sobre carros, mulher e muito luxo.

“Tinha uma casa noturna [Cabaret] que era referência de funk em São Paulo e eu tocava muito nela. MC Rodolfinho, MC Guimê, MC Dede, todos esses MCs iam lá, curtir o baile e me entregar umas músicas para eu divulgar. E andando pelos bailes de rua, eu percebia que esses artistas estavam estourados”.

Puffe é um dos nomes mais conhecidos no circuito do baile funk de São Paulo, com quase 10 anos de carreira como DJ. Renan iniciou na música com um grupo de pagode em 2005. Com dois anos de grupo, ele decidiu levar um notebook aos shows, para ao final das apresentações tocar algumas músicas. Surgia no rapaz o instinto de DJ, e aos poucos essa ideia começou a ficar mais presente, ainda mais com o término do grupo em 2007.

“Eu tinha um grupo de pagode e durante os intervalos dos shows e tal, eu costumava ligar o notebook e tocar algumas músicas. Nisso, alguns amigos e conhecidos começaram a me chamar pra tocar em alguns eventos, foi quando me despertou o interesse em ser DJ”, conta Puffe. “Os poucos DJs paulistanos tocavam fixos, em uma única casa noturna por noite. Eu pensava diferente, queria fazer vários bailes numa noite só, em várias casas noturnas diferentes”.

Esse pensamento ‘empreendedor’ de Puffe para a figura do DJ, em transformá-lo em um artista assim como a figura dos MCs e bondes são, fez ele reparar em um outro movimento que estava começando a ganhar força em São Paulo: o funk ostentação.

“Eu me destaquei na noite de São Paulo por conta do funk ostentação. Em certo momento, eu passei a só tocar funk ostentação, e daí a galera começou a gostar, porque se identificava com aquilo que falava nas letras, dos carrões e tudo mais”.

Essa sacada do DJ, de tocar músicas regionais, ou seja, dos MCs de São Paulo – especializados em ostentação -, nas casas noturnas de São Paulo deu mais do que certo. A soma dos fatores: popularização do ritmo e videoclipes da KondZilla, foi ganhando força e se tornou referência nacional.

“Eu fui um dos criadores da produtora ‘Funk de Elite‘. A gente tinha como inspiração a galera do pagode, que sempre estava uniformizada, não atrasava nos shows. Era um profissionalismo que faltava no funk. Então, decidimos importar isso e adaptarmos”, conta o DJ, que atualmente tem sua própria produtora, a “Atrativa Inigualável“.

Já consagrado no movimento funk na capital, Puffe se tornou parte do movimento. Entre 2013 e 2016, manteve o programa ‘Funk na Band’ da Rádio Band FM. Porém, novos nomes começaram a surgir, com temáticas diferentes das letras de luxo. Essa novidade musical mais ousada entrou em atrito com a programação da rádio e o show chegou ao fim.

“À época, o diretor do programa me explicou que aquele tipo de música [putaria] não dava para tocar na rádio”, lamenta Puffe. “Eu acho que o pessoal tem que abrir o olho para rádio e TV, fazendo as músicas também com versão light. Um bom exemplo é a ‘Deu Onda‘, do G15″, explica.

A São Paulo de hoje é diferente daquela que Puffe conheceu ao se jogar no universo do funk. As produtoras desse segmento se profissionalizaram e a disputa é mais acirrada. Sempre atento ao movimento por um todo, Puffe critica os fluxos atuais, em comparação ao início da década. Segundo o DJ, que é frequentador assíduo de vários – até mesmo para testar e conhecer como está o mercado -, os bailes a céu aberto estão um pouco bagunçados – como mostramos nesta matéria do fluxo do Robru.

“A putaria também cresceu porque a molecada que frequenta fluxo quer consumir esse tipo de música, já a ostentação, ficou em segundo, terceiro plano”, conta o DJ. “Antigamente, os fluxos tinham outros tipos de bebidas, era mais uma vodka, um energético… O pessoal não parava os carros em frente às casas. Hoje está tudo ao contrário, isso atrapalha um pouco o funk – que já é discriminado por natureza”.

Por outro lado, o pensamento de Puffe para o futuro do funk é de muitas conquistas. O DJ acredita que o movimento já reconhece o trabalho e a importância dos DJs e produtores musicais para o ritmo. Além disso, ele aponta para a internacionalização do ritmo, citando exemplos como o MC Bin Laden, que chamou a atenção na gringa.

“Aqui no Brasil já temos artistas de funk que são referências, conhecidos em todos os cantos, como o Nego do Borel, a Anitta. Creio que o próximo passo para o funk vai ser tornar esses artistas conhecidos no mundo todo. Não tem o Chris Brown, que viaja o mundo todo e todo mundo sabe as músicas dele? Acho que pode acontecer isso com os MCs brasileiros”.

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