“Raul”, um livro-reportagem em quadrinhos

28.05.2018 | Por:

Fazer jornalismo não é uma prática fácil. Contar histórias e contextualizá-las da maneira mais fiel possível é tarefa para poucos. De maneira muito precisa, Alexandre de Maio atinge esse objetivo fugindo também dos padrões, fazendo jornalismo por meio dos quadrinhos, mantendo no seu trabalho uma relação bem próxima com as periferias do Brasil. O Portal KondZilla trocou uma ideia com o jornalista e quadrinista, que falou sobre seu mais novo trabalho, o livro “Raul” que conta sobre a história de um jovem que se da mal e acaba na prisão. Se liga:

“Tenho diversos trabalhos ligados [à periferia] e um dos meus objetivos é colocar a estética real, de como é o Brasil. Nos quadrinhos, se vê muito uma estética americana, algo distante da nossa realidade”, explica De Maio sobre seu trabalho. “A estética brasileira não é bem representada, então esse sempre foi um dos meus maiores desafios”.

“Raul” conta a história real de um rapper que, no auge da carreira, foi preso e teve diversas reviravoltas na sua vida por conta desse fato. Após diversas conversas com a fonte, a história se materializou no livro, lançado pela Editora Elefante.

“Esse trabalho surgiu com um personagem que conhecia há tempos, é uma história real de um rapper que foi preso no auge da carreira – ele dava golpe com cartões. Conheci ele em 2006 e sempre mantivemos contato, depois que ele saiu também, viajou o mundo, tentou voltar pro mundo da música, foi parar no crime. Fiquei fascinado pelas voltas dessa história, pela parada do cartão, que o cara rouba o dinheiro do sistema, sem usar nenhuma arma. Enfim, tinham vários elementos na história dele que acreditava que daria um livro. Um dia sentei com ele e fiz uma grande entrevista”.

E se as viaturas voassem?

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O jornalista explica que mesmo se tratando de uma narrativa diferente, utilizando a linguagem dos quadrinhos, o livro mantém os padrões jornalísticos de apuração e cuidado com as informações publicadas, ainda mais por se tratar de um tema muito delicado.

“Produzir esse trabalho foi como uma reportagem: você tem a apuração, o trabalho de refinar a história, uma responsabilidade com tudo o que está ali, ainda mais num tema desse. Mas, basicamente, esse livro é uma grande entrevista com a fonte. Marcamos um dia, fui tirando algumas dúvidas, montei esse roteiro e depois parti pro desenho”.

O que tipo de conteúdo poderia ter um programa que juntasse rap e quadrinhos ?

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A relação de Alexandre com os HQs começou ainda na escola. O jovem não era muito fã dos estudos, digamos assim, e aproveitava boa parte do seu tempo para desenhar nas carteiras escolares. O hobby acabou virando profissão, que se misturou com o jornalismo.

“Desenho desde pequeno e sempre gostei de histórias em quadrinhos”, explica Alexandre. “Com 19 anos, fiz uma históra sobre uma parada que aconteceu na minha rua e sobre uma letra do Racionais MCs. Foi quando comecei a correr atrás disso e encontrei uma revista que se interessou por esse trampo, que já era um jornalismo em quadrinhos”.

Morro do alemão #riodejaneiro

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Foi então que, em 1999, o jornalista viu uma grande oportunidade.”Tinha na cabeça a ideia de fazer quadrinhos e colocar reportagens no final. Em 1999 encontrei uma editora disposta a abraçar essa ideia e lancei a “Rap Brasil“. Eu era responsável por várias etapas da revista, numa época que não tinha internet, você tinha que trombar o cara no show, pegar o contato, ir na casa dele, fazer a entrevista, tirar foto… Era algo trabalhoso, mas foi muito importante pra mim, conheci diversos lugares do país e fiquei imerso nessa cena do rap”.

Vivendo a época de ouro do rap nacional, ele percebeu a carência de boa cobertura sobre o tema e decidiu criar uma revista especializada. Nascia então a revista que foi publicada durante 10 anos e fez o registro de uma época lembrada com saudosismo até os dias de hoje.

Alexandre destaca que a cultura hip-hop tinha uma relação difícil com os veículos tradicionais, e por isso tomou uma tática que ajudou bastante seu trabalho. “O rap tinha um choque com a grande mídia, pois o trabalho e as dos caras saíam deturpadas. Eu era diferente, tinha uma tática de escrever as conversas na íntegra. Isso também ajudou bastante na relação de confiança”.

Primeiras páginas do Raul. @editoraelefante

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Além da revista “Rap Brasil”, o jornalista e quadrinista também colaborou na “Revista Raça“, e em outros livros, como: “Os Inimigos Não Mandam Flores” (2006) e “Desterro” (2013), ambos em parceria com o escritor Ferréz. Seu trabalho de jornalismo em quadrinhos foi publicado em vários veículos como o jornal Folha de SP, o portal UOL, a agência Pública, a revista Fórum, entre outros. Em 2013, ele ganhou o prêmio Tim Lopes de Jornalismo Investigativo, um dos mais importantes do país.

Mas quem vive com arte sabe que trabalho de pagar conta é uma coisa e realização pessoal é outra. Aproveitando que era CLT no trabalho atual, como coordenador da área de audiovisual do Catraca Livre, tirou férias e caiu de cabeça no projeto “Raul”. Em março deste ano, nasceu seu primeiro livro solo.

Recomeço. @kel_bill ?

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Adquira o seu exemplar do livro no site da Editora Elefante.

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